Saúde sexual de mulheres lésbicas

 em LGBTI

A invisibilidade dos relacionamentos lésbicos é algo tão cotidiano, que muitas vezes mulheres lésbicas não encontram material que fale sobre a saúde sexual de lésbicas.

O Coletivo Cássia é um espaço aqui em Curitiba que busca acolher e unir mulheres lésbicas e bissexuais na busca pela visibilidade, respeito, luta contra o machismo e lesbofobia.

Estes dias li o artigo que trago abaixo, na íntegra, escrito pela ginecologista Luiza Sprung, que fala exatamente sobre sexo e saúde sexual entre lésbicas.

 

“A sexualidade não se trata apenas de preferências – ela é um conjunto de manifestações físicas, psicológicas e emocionais que nos permite sentir vivas. Quando entendemos e vivemos plenamente nossa identidade e orientação sexual somos capazes de procurar entender as alterações do nosso corpo, bem como procurar assistência quando necessário.

Antes de explorarmos nosso corpo, faz-se necessário um conhecimento mínimo da anatomia (um espelho em frente à região genital é muito útil). Isso nos permite assimilar diferenças básicas da localização da glande do clitóris e entrada da vagina, bem como pequenos e grandes lábios e uretra (o canal da urina). Além de saber as localizações dos principais pontos de estímulo sexual, esse conhecimento permite a identificação de algumas infecções sexualmente transmissível, como verrugas de HPV e conteúdo vaginal aumentado.

​A prática sexual nos permite viver a sexualidade de forma satisfatória e prazerosa, seja por masturbação e/ou todos os outros atos que a compreendem. O uso de brinquedos eróticos tem aumentado devido à mudança de paradigmas e à percepção consciente do beneficio que podem trazem para satisfação individual. Os vibradores, por exemplo, permitem movimentos rápidos e constantes que geram uma grande sensação de excitação (influências neurológica e hormonais capazes de causar vascularização aumentada da vagina e clitóris, elevação da pressão sanguínea, pulsação acelerada, aumento da sensibilidade da pele, bem como aumento da lubrificação vaginal). Esses brinquedos devem ser higienizados com água e sabão neutro antes e após o uso, utilizados com preservativo e não devem ser compartilhados pelo risco de mudança da microbiota vaginal causando vaginose e candidíase e de transmissão de IST’s – hepatites, HPV, HIV e sífilis.

​A masturbação com os dedos é uma excelente forma de exercer a sexualidade e normalmente, na infância e adolescência, é a primeira experiência de descoberta do prazer sexual. A medida que nos tocamos, conhecemos melhor as reações e a sensibilidade do próprio corpo (e o da parceira), bem como desencadear, controlar ou, até mesmo, impedir o orgasmo. Ela é capaz de aliviar tensões físicas, sexuais e psicológicas de modo natural e saudável.

​Quando o ato sexual é praticado entre duas mulheres, deve-se ter o cuidado de fazer fora do período menstrual e de maneira segura – o uso de preservativo feminino (seja quando há contato entre as vulvas, no sexo oral ou anal) evita a transmissão das IST’s. No sexo oral, não devemos engolir os fluídos vaginais da parceira e escovar os dentes ou usar fio dental antes da prática a fim de evitar lesões que possam ser portas de entrada de vírus e bactérias.

​As triagens para IST’s devem ser feitas em mulheres com sintomas ou naquelas com fatores de risco e a vacinação contra o HPV e as hepatites A e B são indicadas. Além da saúde sexual, a mulher lésbica deve se atentar aos exames ginecológicos rotineiros, assim como todo o público feminino é orientado a fazer. Sabe-se que devido ao paradigma histórico-patológico, onde havia isolamento e estigmatização dos indivíduos de minorias sexuais, há uma dificuldade de procura e manutenção dos cuidados em saúde, na maioria das vezes causada por julgamentos ou insensibilidade dos profissionais da saúde ou pela suposição da heterossexualidade das mulheres, o que afastava a lésbica e a bissexual desse cuidado continuado.

​Atualmente, com a melhora da educação e informação dos médicos e com o combate ao preconceito, as pacientes lésbicas e bissexuais são acolhidas por profissionais da saúde com mais conhecimento sobre as necessidades específicas da população LGBTI+, resultando em maior procura desta população aos cuidado de saúde.

Dra. Luiza S. Sprung
Ginecologista e Obstetra

Ginecologista do Serviço de Ginecologia e Corpo Clínico do Hospital Santa Casa de Curitiba
Fellow de Uroginecologia do HC-FMUSP” 

 

Fonte: http://coletivocassia.org/2019/03/13/sexo-e-saude-da-mulher-lesbica-e-bissexual/

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